quarta-feira, 18 de abril de 2007

Blame the state

Tudo o que acontece de ruim na sua vida tem a interferência do governo. Às vezes parece que algo aconteceu independentemente da ação governamental, mas, analisando a fundo, o governo também estava lá, impedindo que algo funcionasse direito na sua vida. Este texto pretende ser não mais que um pequeno apanhado dessas pequenas coisas aparentemente banais.

Para começar, as filas. Filas não são naturais, e tudo o que não é natural na organização humana é causado pelo governo. Quando se vai à padaria com mais pressa, é impossível não se deixar perturbar pela demora na fila. O governo é o único responsável por essa demora.

Quando estipula regras para a abertura de padarias (e bancos, supermercados e outros estabelecimentos em que se formam filas), o governo força que milhares de empreendedores ansiosos por entrar no mercado fiquem de fora por tempo demais, até que eles desistam ou não sejam mais suficientes para atender à demanda. Quando obriga que seja impressa uma nota fiscal a cada compra, além de obviamente elevar os preços dos produtos, o governo aumenta o tempo de fila. Quando o Estado resolve que o pão deve ser vendido por quilo, tira do mercado alguns mercadinhos que tinham no pão apenas um produto adicional e obriga o consumidor a encarar não só a fila do mercadinho, mas também a da padaria.

Claro, algumas filas existiriam mesmo sem a interferência do Estado: filas para comprar ingressos para um show, por exemplo, ou filas para entrar na melhor boate da cidade. Mas essas filas seriam extremamente reduzidas, porque sem Estado os cambistas estariam livres para negociar.

Quando seu filho se dá mal na escola, a culpa é do governo, também. É ele quem estipula regras de como, quando e quanto deve ser ensinado ao seu filho. O governo, ao regulamentar a educação, impede que você procure uma escola que se adapte ao estilo dele, obrigando, assim, seu filho a se adaptar à escola que freqüenta. Os métodos de ensino eficazes para alguns não funcionam com todos, e um dos prejudicados pode ser seu filho.

E, se seu encanamento entupiu, não pense duas vezes antes de acusar o Estado. Ele é quem impede, através de órgãos como o CREA, por exemplo, que formas diferenciadas de construção se firmem, porque exige que tudo seja devidamente fiscalizado e inspecionado, o que aumenta e inviabiliza o preço dos encanamentos autolimpantes (que, por sinal, economizam bastante no longo prazo por não exigirem manutenção – e aqui o governo também gasta mais do seu dinheiro).

Na conta de telefone, energia e água como no alto custo de um iPod e na quase impossibilidade de se assinar internet banda larga, lá está o Estado. Em cada pequeno defeito da sua vida, em cada infortúnio, lá você o enxerga, sempre piorando cada coisa que poderia dar certo. No atraso dos aviões como no preço da gasolina e no dos livros; no alto preço de uma geladeira como no do videogame e seu controle. Quando você tropeça na rua ou quando não consegue emprego. Tudo é culpa do Estado e sobre ele deve recair a ira de cada um que já foi assaltado, estuprado, seqüestrado; qualquer um que conheceu alguém que foi assassinado. Ao Estado deve-se culpar pela impossibilidade de se manter uma segurança privada mais eficiente que a pública. O que não se pode querer é que o culpado por todos esses crimes continue administrando a forma como tudo é feito, mas isso é assunto para outro dia.