domingo, 8 de abril de 2007

Chama-me de qualquer coisa, mas fica certo de que qualquer coisa significará o que eu quero dizer

Um dos maiores problemas da atualidade – e eu falo sem medo de exagerar ou extrapolar meus limites – é a mania de criar minorias, dividir, separar, isolar, restringir, limitar, formar grupos cada vez menores para ser definidos por uma palavra que, sem perda de qualidade, poderia definir muito mais elementos do que de fato define.

Cada um deseja ter para si um nome exclusivo, porque não nota que todas as teorias em que acredita são semelhantes às do outro, que adota outro nome para si e acaba forçando uma diferença baseada na mera rivalidade: “apesar de iguais, nós nos odiamos. Por isso somos diferentes”. Não notam que até no ódio mútuo são semelhantes, porque seus olhos estão cegos à possibilidade de, quem sabe, mudar de nome.

Isso acontece tanto com os comunistas – P-SOL, Judean People’s Front, People’s Front of Judea, Popular Front of Judea e PC do B – quanto com os anarquistas – Anarco-capitalismo, anarco-individualismo – e com os social-democratas, que não deixam de ser comunistas – PT, PSDB, DEM. Não há como distinguir um único ideal díspare entre esses grupos, apenas o ódio irracional dedicado ao semelhante justamente pelo fato de ser semelhante.

Qualquer pessoa minimamente interessada por política é capaz de perceber que “Social-democracia” é democracia e que se interessa pelos trabalhadores – afinal, esse “social” deve servir para algo. De fato, qualquer democracia funciona pelos e para os trabalhadores: eles são a verdadeira maioria; são eles que decidem, no final – eu não me lembro de haver, na história, um país com maioria desempregada.

Também o comunismo do P-SOL e o do PC do B são iguais, já que ambos acreditam que a regulamentação estatal em busca do bem geral é necessária para o pleno desenvolvimento da sociedade e para o bem-estar social. P-SOL e PC do B, entretanto, como os partidos populares da Vida de Brian, filme do Monty Phyton, sempre se desgastam enquanto lutam entre si.

A chamada “esquerda”, porém, age para reduzir as diferenças entre si, faz alianças com seus semelhantes, e esse é o motivo de sua força crescente – não uma “revolução gramscista”. Quando estão aliados (numa democracia isso fica claro), o poderio dos partidos (escolas) multiplica-se, assim como a sua influência. Tudo graças ao reconhecimento de que se pensa igual – ou, no mínimo, de forma muito parecida. O que é preciso, como estratégia de fortalecimento, é a união aos partidos (escolas) de pensamentos semelhantes, o reconhecimento de que não se está só – estar só, que, geralmente, é descrito como angustiante, parece, entretanto, agradar à maioria; talvez pelo sentimento de exclusividade, de propriedade da idéia, do nome.

Naturalmente, não se deve deixar enganar por aqueles que não têm coerência com suas idéias, que acreditam que é possível, por exemplo, ser liberal no aspecto econômico e conservador no social, como os conservadores, que aparentemente acham que a sociedade está desvinculada de sua economia, como se a economia fosse algo além ou aquém da sociedade. Não se deve, na ânsia pela conquista de espaço, aliar-se àqueles que não têm consistência ou que discordam de você. Uma aliança entre liberais e conservadores apenas serviria para desvirtuar os primeiros, já que os segundos são incapazes de desenvolver qualquer teoria com o mínimo de consistência.

De minha parte, agora, abdico a qualquer nome ou título para me aliar àqueles que concordam com minhas idéias, porque as palavras são apenas o que fazem delas, significam apenas o que lhes foi concedido, e não me importo de abrir mão da propriedade de uma palavra para conquistar aliados sob outro rótulo de significado semelhante.