sábado, 23 de junho de 2007

Nós não somos nem precisamos ser iguais

A inteligência convencional aconselha uma união entre liberais e conservadores para "enfrentar o pensamento esquerdista dominante no país". Enquanto isso, podemos ignorar ou subestimar a importância da divergência entre as duas correntes, porque é estúpido perder tempo com esse tipo de discussão quando há um inimigo maior para combater, a saber, a "esquerda". O que falta é união, coisa que sobra nos esquerdistas - mestres em organização e propaganda.

Esse é o raciocínio estratégico padrão da "direita" brasileira. O único problema é que esqueceram de avisar aos esquerdistas que eles eram unidos.

A esquerda, ao contrário do que diz a sabedoria convencional, não é nem nunca foi unida. Na verdade, esquerdistas são altamente sectários, e eu diria até que esse é um dos motivos do crescimento intelectual esmagador dos "socialistas" (sei que esse é um rótulo vago, mas não tenho outro aplicável aqui) no fim do século XIX e durante o século XX. Foi com discussões internas, sobre teoria e estratégia, que eles refinaram as próprias idéias e cresceram. Eles não pensaram em subestimar as diferenças entre as correntes para combater o inimigo maior, o status quo. Combateram ambos, criaram inimizades com velhos aliados e criaram novas correntes, alianças e tendências, e assim cresceram.

Na esquerda, ou ao menos no que é chamado normalmente de esquerda, podemos identificar vários partidos políticos brasileiros: PT, PDT, PCdoB, PSTU, P-SOL, PCO. Eles são todos iguais? Todas as variantes do comunismo, a social-democracia, o ambientalismo, o comunitarismo, o sindicalismo, a maioria das variantes do anarquismo, o progressismo e o socialismo cristão são todos iguais? Todas essas correntes, subcorrentes e tendências da esquerda são bastante conhecidas, mas quando criticar é necessário, a esquerda se torna um bloco uno que só pode ser derrotado com uma grande coligação "de direita".

Não posso responder definitivamente por que existe essa impressão de que a esquerda é unida ou unitária, mas eu atribuo isso ao fato de que o discurso mainstream é vagamente de "esquerda", o que passa a sensação de que vivemos rodeados de esquerdistas uniformes. Só que nada é mais falso e os liberais (e também os conservadores, por que não?) vão perder muito se continuarem a fingir que são aliados naturais. Uma diferenciação radical entre os liberais e os conservadores seria melhor para ambos. Somente com esse tipo de definição intelectual um movimento ideológico pode ganhar força. Se os liberais e conservadores continuarem achando que são apenas subcorrentes de um movimento maior chamado "direita", vão permanecer com o pensamento obnubilado. O reconhecimento das diferenças da mais força aos argumentos.