terça-feira, 10 de julho de 2007

Por que as reformas liberais são mais difíceis do que parecem

Nem toda privatização é libertária, embora a privatização em si seja um objetivo libertário. Da mesma forma, não é porque o liberalismo/libertarismo quer tirar poderes do estado que qualquer diminuição do poder estatal necessariamente leva a uma ordem mais justa. Sobre isso, eu fiz um post no orkut há pouco:
Imagine uma sociedade em que há dois grupos (desconsiderando todos os outros fatores). O Grupo A é subsidiado com X/2 reais e o Grupo B com X reais.

Agora imagine que o governo pare de subsidiar o Grupo A. Agora os privilégios relativos do Grupo B aumentaram em relação ao Grupo A. Você diria que os direitos de A são mais ou menos violados agora? Eu diria sem dúvidas: mais.

Mas esse não é um argumento a favor de aumentar os subsídios a A, para que a situação de A e B fique igualada. Eu não sou a favor disso. É um argumento a favor de diminuir os subsídios a B.

Você pode dizer: "Mas isso te faria considerar menos injusto um aumento dos subsídios a A". De fato, mas dizer que algo é menos injusto não é dizer que aquilo não é injusto. Dificilmente esse pode ser um argumento a favor do aumento dos subsídios a A.

Meu ponto é que se deve manter as coisas em contexto. Privatização pode ser uma coisa libertária, mas nem toda privatização é uma coisa libertária. Extinção dos programas estatais é um objetivo libertário, mas nem todas as extinções de programas estatais levam a fins libertários.
Ou seja, não é porque um tipo de subsídio deixa de existir que se estabelece um cenário mais justo. Deve-se manter as coisas em contexto. Quando eu li o trabalho de Chris Matthew Sciabarra pela primeira vez, achei seus comentários sobre dialética (na verdade, a "dialética" dele tem a ver com "contexto") eram triviais. Só mais tarde eu vim a perceber como é difícil você manter as coisas em contexto — e conseqüentemente vim a apreciar mais o trabalho dele. A primeira impressão que você poderia ter ao ler meu exemplo dos grupos A e B era que qualquer eliminação de subsídios estabeleceria uma situação mais justa. Obviamente esse não é o caso.