sábado, 24 de outubro de 2009

Espero que os dois leitores ocasionais do google tenham sentido saudades minhas

Este post será um tanto inconclusivo, por dois motivos: a qualquer momento meu roommate deve me chamar pra irmos pra Sierra Norte de Sevilla, e em algum momento antes a preguiça pode me impedir de elaborar melhor meu raciocínio.

Pois bem, o maior problema que eu tenho reparado, ultimamente, de um Estado grande, é o comodismo que ele gera. Quando você tem um governo que já faz por você parte do que seria, supostamente, seu serviço - como, por exemplo, pagar um plano de saúde, uma aposentadoria privada ou mesmo toda a caridade que você gostaria de fazer -, você se acostuma a pensar que o governo é não mais que um empregado seu, que depende de você para sobreviver.

Mas o Estado é um funcionário muito polivalente, que se oferece para cada vez mais serviços. Já te dá segurança? Oferece educação. Você aceita e ele te oferece serviços de jardinagem, de cabeleireiro, de mecânico de automóveis e sei lá mais o quê.

E, como todo funcionário, o Estado se torna pior quanto mais se lhe acumulam cargos - imaginem-se como professores, coordenadores, diretores, zeladores e bibliotecários de uma escola ao mesmo tempo. Isso é o que acontece.

E aí começam os protestos pelos maus serviços que esse empregado te dá, e você pode até protestar com faixas e caminhadas, mas o empregado te dá, teoricamente, tantos serviços (a escola dos filhos, o hospital da avó, os remédios pra pressão da esposa e os do seu diabetes) que você simplesmente não tem coragem de demiti-lo como faria com algum outro empregado que falhasse em algum aspecto.

Além disso, a principal cláusula do contrato que você fez com ele é que você não pode demiti-lo. A cláusula de rescisão foi substituída pela cláusula da segurança, e agora um contingente de meio milhão de soldados que te daria segurança está disposto a te impedir de cancelar o contrato.

Mas você também não se importa muito com cancelar o contrato, porque é cômodo fazer todos os serviços através de um único pagamento - mesmo que esse pagamento seja infinitamente superior aos retornos que proporciona, que não valha a pena receber um terço do que se poderia obter se se fizessem contratos com empresas e cláusulas de rescisão. Afinal, seria necessário você procurar as empresas pra te proporcionar os serviços que hoje te são entregues automaticamente, descontados na folha de pagamento e na nota fiscal do supermercado.

Imagina ter que pesquisar o melhor serviço pra cada área da vida, que sufoco! Que plano de saúde contratar? Em que escola matricular seus filhos? Em que farmácia comprar os remédios, em que hospital ser atendido, que tipo de calçamento usar na rua, quanto doar e para quem fazer caridade? Acaba-se assumindo, por preguiça, que o Estado é necessário para prestar serviços básicos à população pobre porque se admite a preguiça como fator necessário na equaçao da ação, esquecendo-se sempre que a preguiça não é anterior ao Estado - é proporcionada por ele, pelas "facilidades" que ele proporciona.

Assume-se, em geral, que todos são preguiçosos ou que ninguém faria isso se não existisse o Estado, quando, na verdade, ninguém faz aquilo por causa do Estado. Daí vemos camelôs, em Recife, pedindo que a prefeitura os organize - algo que, sabemos, poderiam fazer sozinho -, e alemães ricos pedindo pra o governo aumentar o imposto sobre si mesmos - poderiam eles próprios doar seu dinheiro pro governo, não?

(Na Dicta e Contradicta, o Joel chama de hipocrisia o pedido dos alemães ricos. Pra mim não é hipocrisia - é meramente uma mostra da preguiça, mesmo, do comodismo que é pagar 5% e esvaziar os pesos da consciência como se fossem recolhidos por um caminhão compactador de lixo)

Mas a tomada de atitude é algo impensável em países ricos ou pobres atualmente, porque a preguiça do Estado contaminou o mundo. E não são protestos por uma educação melhor (ou passeatas por menos corrupçao, ou que seja) que vão aliviar esse peso da preguiça. Isso não é atitude - isso é reclamar do bigmac e continuar comendo o mesmo sanduíche. Isso é defender o princípio esquecendo que, no fim, a situação atual (e incômoda) é a única conclusão possível. É alimentar o diabo pra que te dê mais do mesmo a um preço maior.

Enfim, na minha cabeça esse argumento tá mais montadinho, e é possível - provável e natural - que alguém mais inteligente e disposto e que não tivesse um passeio planejado para uma agradável tarde de sábado tenha elaborado melhor esse argumento, e eu esteja só fazendo papel de bobo aqui falando. Nesse caso, mais bobo é você, que leu.

Além disso, tô com preguiça de escrever mais. Vou pedir pra algum sociólogo do governo desenvolver o assunto pra mim.