quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Desempregômetro

Isto é uma das coisas mais estúpidas que surgiram nas últimas décadas. O sentido que esse quadro faz é zero, e me parece impossível que alguém - qualquer pessoa que seja - tenha feito isso sem má-fé ou com qualquer vestígio de boa intenção, tão óbvia a falácia.

O primeiro erro, e o mais básico, é a idéia de que o consumo é constante. Não é. Ele varia (e muito) em função do preço. Um celular de R$799,00, custasse R$2.099,00, seria muito menos consumido. Como o consumo dita a produção, seriam produzidos menos celulares do modelo no Brasil, e, conseqüentemente, menos pessoas trabalhariam na fábrica da empresa no Brasil, pois a demanda por mão de obra seria menor.

O segundo erro é a idéia, presumida pelo site, de que algum país é capaz de produzir 100% do que consome. Em economia, existe um trocinho chamado vantagem comparativa, que mais ou menos prova que o comércio entre países é benéfico para os dois lados, pois o custo de produção de frutas no Japão é alto o bastante para compensar que, em vez de produzir as frutas, eles produzam carros, e troquem os carros por frutas produzidas no Brasil. Dessa forma, o simples fato de o Brasil exportar coisas significa que existe um "excesso" de produção (com uso de mais mão-de-obra, naturalmente) em áreas mais eficientes* da economia brasileira. Esse excesso de produção precisa ser escoado para o exterior para que tenham algum valor, pois o mercado interno simplesmente não tem demanda o bastante para absorver tudo o que aqui se faz.

Portanto, defender que o Brasil importe menos é defender maior escassez de produtos, reduzindo o acesso da população à variedade de marcas e produtos provenientes do mercado externo (já que teríamos apenas as marcas nacionais para optar), reduzindo, por sua vez, a satisfação da população (embora seja possível que se esteja satisfeito por ter um Gol, ter um Golf é mais satisfatório, e ter um Civic é ainda mais satisfatório. A redução de barreiras à importação facilitaria o acesso do brasileiro a carros de categorias muito superiores às que ele tem acesso hoje, desembolsando o mesmo valor).

Defender, na verdade, qualquer tipo de interferência do Estado no mercado, seja no interno ou no externo, é defender uma redução da tendência natural à eficiência que o lucro e a concorrência proporcionariam, caso não houvesse tantas barreiras.

Próximo passo: criar uma lei exigindo que as empresas brasileiras absorvam os "desempregados" criados pela importação (porque não há gente trabalhando no país onde as coisas são fabricadas, provavelmente é tudo feito por robôs 100% autônomos e sem necessidade de combustíveis).

*Ou, como é muito provável, mais subsidiadas, regulamentadas ou cartelizadas - os considerados "setores estratégicos", como o petroleiro e a agronomia.