terça-feira, 18 de outubro de 2011

Compêndio de ideias infelizes defendidas por liberais

Ser liberal é trabalhoso às vezes porque nós temos que defender gente que admiramos das próprias bobagens que escreveram.

Ninguém é perfeito, claro, e se a gente entra por esse caminho, é difícil alguém sair intacto. Sócrates admirava o sistema de governo espartano, Aristóteles achava o temperamento intempestivo dos persas uma justificativa para escravizá-los.

Proudhon era bastante machista e anti-semita. Nem vou começar a listar as credenciais de Karl Marx, para não machucar nossos amigos esquerdistas.

Enfim.

Para poupar o trabalho dos anti-liberais, tentei reunir aqui algumas posições ou atitudes no mínimo infelizes de gente famosa associada ao liberalismo. Claro que não consegui reunir todas, só algumas que lembrei no momento. A lista foi preparada para nos poupar de discussões infrutíferas, porque nosso tempo na terra é limitado.

Este é um work in progress. A lista não tem qualquer ordem definida. Foram só os casos de que me lembrei na hora de escrever. Aceito sugestões para adições, se alguém aí lembrar.

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Mises elogia o fascismo

Em 1927, uma passagem de Mises em Liberalism elogia o fascismo, falando que era um movimento com as "melhores intenções" e que sua intervenção pontual havia "salvado a civilização Europeia".

Possível justificativa: Nos anos 20, o fascismo era a vanguarda e era considerado o máximo por toda o beautiful people. Só mais tarde todo mundo se tocou que não foi uma boa ideia ficar ao lado de um totalitarismo para evitar outro. Com Mises foi o mesmo.

Mises defende o serviço militar obrigatório

Na segunda e terceira edições de Human Action, Ludwig von Mises defende o serviço militar obrigatório para preservar a sociedade livre. A passagem não está presente na primeira edição do livro e parece completamente fora de lugar, mas está lá.

Possível justificativa: A segunda edição de Human Action saiu nos anos 60, no auge do fervor ideológico da Guerra Fria. É até um pouco desculpável que alguém passe a acreditar que os militares são maravilhosos com o bombardeio diário do governo.

Murray Rothbard faz obituário meloso para Che Guevara

Em 1967, Murray Rothbard escreveu um obituário que não poupou carícias a Che Guevara, chamando-o de heroico e de ícone do princípio da Revolução (assim mesmo, em maiúscula).

Possível justificativa: Nos anos 60, informações sobre os atos de Che eram escassas. Não havia ainda documentação sobre os assassinatos do guerrilheiro nem ideia da extensão da destruição causada por ele por onde passou. Daí, pode-se desculpar um pouco o obituário ridículo de Rothbard. Mas não muito.

Hans-Hermann Hoppe não esconde bem seu desconforto com gays

Em Democracy: The God that Failed, Hoppe inventou de encaixar umas citações facilmente usáveis contra ele. Num ponto, ele fala de comunidades contratuais em que certos pontos de vista ou estilos de vida não são permitidos. Então, de acordo com ele, em comunidades feitas para proteger os valores familiares, homossexuais, comunistas e hedonistas devem ser fisicamente excluídos.

Possível justificativa: Ele podia ter aliviado a própria barra dizendo que comunidades progressistas poderiam ostracizar carolas, já que isso seria permitido para qualquer organização baseada na propriedade privada. Preferiu a polêmica.

Ayn Rand ♥ fumo

Rand notoriamente defendeu o fumo como um bem moral, já que o fogo do cigarro representa o "fogo das ideias" - observação singularmente estúpida, diga-se de passagem.

Possível justificativa: Pouca gente sabia dos efeitos nocivos do cigarro durante a maior parte da vida de Ayn Rand. E ela era singularmente adepta de racionalizações idiotas para seus hábitos. É a vida.

Jean-Baptiste Say fala sobre os benefícios da escravidão

O economista francês não estava num bom dia quando escreveu que o trabalho escravo é "mais barato" em relação aboldalho assalariado. Esqueceu de colocar no cálculo o custo para o escravo, provavelmente.

Possível justificativa: A escravidão, na época de Say, era ainda bastante popular, o que pode ter manchado seu bom julgamento. Felizmente, ele mais tarde se corrigiu e passou a condenar a escravidão publicamente.

Ayn Rand e os direitos de nativos americanos e médio-orientais

A mulher não era fã dos nativos americanos e argumentou que os pobres coitados não tinham direito às terras de que foram forçosamente removidos pelos colonizadores europeus. De acordo com ela, eles só ficavam correndo sobre a terra, sendo selvagens e sem qualquer concepção moral, e portanto os direitos deles não deviam ser reconhecidos. Na mesma veia, ela não ligava tanto para os habitantes do Oriente Médio, considerados selvagens, atrasados e terroristas. Um dos seguidores mais hardcore da escritora, Leonard Peikoff, já até defendeu que se jogasse uma bomba atômica no Oriente Médio, seguindo os ensinamentos da guru.

Possível justificativa: Racismo, talvez? Tentativa fracassada de justificar as próprias noções pré-concebidas? No caso do Oriente Médio, ao menos, pode-se dizer que ela não estava tão distante do consenso de sua época.