segunda-feira, 21 de abril de 2008

A crença na totalidade da política

A esquerda atual freqüentemente insiste no ponto de que "tudo é política", ou seja, insiste que tudo é passível de discussão pública, de debate ou deliberação coletiva. A esquerda em geral quer que a vida das pessoas seja politizada em todos os sentidos. É fácil perceber o motivo de toda essa insistência. Ao se tornar todos os aspectos da vida passíveis de debate, não é preciso mais respeitar certos direitos individuais, que se tornam relativos, dependentes de certas contingências e conveniências.

Politizar todos os aspectos da vida significa que se perde a divisão entre o "público" e o "privado", ou seja, a divisão que delimita o que é e o que não é passível de ação coletiva, de legislação. As garantias mínimas de que o indivíduo desfruta se tornam apenas conveniências relativas. A esquerda não tem o menor problema com isso porque ela não acredita na existência de uma moralidade absoluta.

Eu não vou discutir o fato de que a sociedade, ou melhor, o bom funcionamento da sociedade, depende do cultivo de certos valores para não desintegrar. De fato, a única coisa que mantém a sociedade unida é uma percepção da maioria de que ela não deve agir positivamente para destruí-la. Mas isso está bem longe de dizer que "tudo é política", e me parece evidente que pensar que tudo é política é um jeito bem pobre de ver a vida.