Essa onda de protestos encheu minha timeline de pessoas conscientes acusando os o povo: "quem manda votar 1) no PT 2) no Alckmin 3) nesses corruptos". Que "cada povo tem os políticos que merece".
Novidade pra vocês: a culpa não é do eleitor. Não se pode dizer que "ah, mas é o eleitor quem vota". "Ah, mas se pelo menos as pessoas votassem conscientes". Não, não importa.
O "voto consciente" é apenas o voto naquele cuja estrutura de propaganda engana melhor. Nego defende a proibição da publicidade de cigarro porque estimula a população a fumar, e não vê que a mesma lógica se aplica à propaganda política.
De dois em dois anos somos cercados por propagandas eleitorais, e esperam que alguém escolha seus candidatos com base nelas. Mas, assim como a propaganda tabagista não estimula que se estudem os efeitos do cigarro no organismo, a propaganda eleitoral não estimula que estudemos o passado e as idéias dos candidatos. Ganha aquele cujo aparato de propaganda for mais eficiente, assim como o market share das empresas melhor assessoradas sobe.
Outra coisa: a publicidade tende a mentir, ou pelo menos a ocultar os defeitos daquilo promove. Assim, as fotos na embalagem do biscoito Bauducco são meramente ilustrativas. As propostas dos candidatos também.
E existe um problema ainda mais grave no governo, que intensifica a geração de "imagens meramente ilustrativas", como a criação de bolhas econômicas pra driblar a crise, fingir um crescimento, e de quebra deixar a bomba infladinha pra estourar nas mãos do próximo mandatário: o governo é um monopólio. É como se a empresa de maior market share ganhasse o monopólio daquele serviço por um período de quatro anos. É como se a Richester tivesse que fechar, porque a Bauducco vende mais. Como se o Guaraná Antárctica fechasse as portas, porque a Coca-Cola é obviamente mais popular. Ou como se o carrinho de cachorro quente da esquina fosse obrigado a desistir porque a McDonald's domina o mercado.
Não é difícil imaginar as conseqüências desse tipo de situação. Durante seus quatro anos de monopólio, a Bauducco não precisaria mais se preocupar nem com a insatisfação de seus clientes: não haveria outra opção. Caso os clientes se mostrassem insatisfeitos, ainda receberiam a culpa. Afinal, foram eles que escolheram a Bauducco, quem mandou escolher uma empresa cheia de defeitos? E os estímulos da Bauducco para manter sua qualidade seriam nulos. Sem concorrência, a Bauducco não teria incentivos para inovar ou para manter seus preços dentro do razoável. Com o tempo, a Bauducco não teria incentivos pra manter sequer a qualidade dos seus serviços. No fim das contas, o maior controle de qualidade da Bauducco é a Richester. O maior controle de qualidade do McDonald's é o carrinho de cachorro quente. A cajuína São Geraldo faz mais pela Coca-Cola que todos os engenheiros de alimentos.
Pena que o governo não tem uma Richester. E faz questão também de evitar o surgimento de uma Richester no transporte coletivo.
Novidade pra vocês: a culpa não é do eleitor. Não se pode dizer que "ah, mas é o eleitor quem vota". "Ah, mas se pelo menos as pessoas votassem conscientes". Não, não importa.
O "voto consciente" é apenas o voto naquele cuja estrutura de propaganda engana melhor. Nego defende a proibição da publicidade de cigarro porque estimula a população a fumar, e não vê que a mesma lógica se aplica à propaganda política.
De dois em dois anos somos cercados por propagandas eleitorais, e esperam que alguém escolha seus candidatos com base nelas. Mas, assim como a propaganda tabagista não estimula que se estudem os efeitos do cigarro no organismo, a propaganda eleitoral não estimula que estudemos o passado e as idéias dos candidatos. Ganha aquele cujo aparato de propaganda for mais eficiente, assim como o market share das empresas melhor assessoradas sobe.
Outra coisa: a publicidade tende a mentir, ou pelo menos a ocultar os defeitos daquilo promove. Assim, as fotos na embalagem do biscoito Bauducco são meramente ilustrativas. As propostas dos candidatos também.
E existe um problema ainda mais grave no governo, que intensifica a geração de "imagens meramente ilustrativas", como a criação de bolhas econômicas pra driblar a crise, fingir um crescimento, e de quebra deixar a bomba infladinha pra estourar nas mãos do próximo mandatário: o governo é um monopólio. É como se a empresa de maior market share ganhasse o monopólio daquele serviço por um período de quatro anos. É como se a Richester tivesse que fechar, porque a Bauducco vende mais. Como se o Guaraná Antárctica fechasse as portas, porque a Coca-Cola é obviamente mais popular. Ou como se o carrinho de cachorro quente da esquina fosse obrigado a desistir porque a McDonald's domina o mercado.
Não é difícil imaginar as conseqüências desse tipo de situação. Durante seus quatro anos de monopólio, a Bauducco não precisaria mais se preocupar nem com a insatisfação de seus clientes: não haveria outra opção. Caso os clientes se mostrassem insatisfeitos, ainda receberiam a culpa. Afinal, foram eles que escolheram a Bauducco, quem mandou escolher uma empresa cheia de defeitos? E os estímulos da Bauducco para manter sua qualidade seriam nulos. Sem concorrência, a Bauducco não teria incentivos para inovar ou para manter seus preços dentro do razoável. Com o tempo, a Bauducco não teria incentivos pra manter sequer a qualidade dos seus serviços. No fim das contas, o maior controle de qualidade da Bauducco é a Richester. O maior controle de qualidade do McDonald's é o carrinho de cachorro quente. A cajuína São Geraldo faz mais pela Coca-Cola que todos os engenheiros de alimentos.
Pena que o governo não tem uma Richester. E faz questão também de evitar o surgimento de uma Richester no transporte coletivo.