terça-feira, 16 de julho de 2013

O capitalismo eikeano

Artigo para a fanpage do LIBER.

Em 1998, Luma de Oliveira desfilou pela escola de samba Tradição do Rio de Janeiro com uma coleira com o nome de seu então marido Eike Batista. A atitude de Luma foi discutida por semanas em todo o país. Luma teve que se defender de diversas acusações a si própria e a Eike, segundo as quais sua relação era de submissão.

Numa de suas entrevistas da época, Luma afirmou que no Brasil havia uma espécie de demonização ao empresário. Para a ex-modelo, no Brasil é impossível ser empresário sem virar alvo de críticas injustas. O traço cultural do brasileiro é anti-mercado.

O mais interessante dessas afirmações não são o fato de que elas podem estar corretas, mas o fato de que elas absolutamente não se aplicam a Eike Batista. Eike é o arquétipo do empresário explorador, que se beneficia de conchavos, alianças e favores políticos. Seu sucesso é um retrato do Brasil corporativista, no qual é impossível vencer por ter o melhor produto ou serviço.

Eike Batista é um produto artificial criado pelo estado brasileiro - em particular pelas políticas absurdas do BNDES. Eike e sua família cultivam seu estilo de vida playboy às custas do povo brasileiro. Isso não é uma metáfora. As empresas de Eike receberam, durante o governo do PT, 10 bilhões de dólares do BNDES.

Dilma Rousseff pode blefar e afirmar que esse dinheiro será "pago", pois são "empréstimos", assim como blefou ao dizer que os estádios da Copa do Mundo serão "pagos". De fato, são empréstimos conseguidos a juros artificialmente baixos subsidiados pelo dinheiro do trabalhador brasileiro. Eike jamais teve que provar que produzia algo, ou pegar empréstimos a valores de mercado. Sempre pôde contar com um empurrãozinho das "autoridades".

As empresas do grupo EBX, de Eike, passam por uma grave crise de credibilidade. Mas isso é evidente, visto que Eike não ganhou seu dinheiro por ser particularmente habilidoso em negócios ou por possuir produtos mais valiosos; foi simplesmente o resultado de uma política, um garoto-propaganda, o poster boy do capitalismo de compadres brasileiro, o capitalismo eikeano. Esse capitalismo, vale salientar, não foi inventado pelos petistas (nem por Eike), mas os petistas souberam extrair até a última gota do modelo.

Agora os partidos da fraca oposição (PPS, PSDB) querem "investigar" os empréstimos a Eike. Não há nada para ser investigado. O sistema que existe foi avalizado e utilizado por anos por esses mesmos partidos para beneficiar outros nomes. A única alternativa é desmontar o vínculo entre estado e capital. Mas nenhum político quer se arriscar dessa forma.

A única forma de resolver essas distorções é fechar o BNDES e acabar com a canalização de dinheiro via governo para qualquer setor econômico. O estado não pode mais direcionar a economia brasileira.

Luma de Oliveira, assim, podia até estar correta ao dizer que os brasileiros não apreciam os empresários, pessoas que foram capazes de enriquecer através do mercado.

Mas se isso for verdade, elas não deveriam odiar particularmente Eike Batista, porque empresário é algo que ele nunca foi.