sábado, 30 de junho de 2007
Por que eu não sou e nunca fui um hayekiano, e por que Hayek não teve qualquer influência sobre mim
Hayek temia que quaisquer tentativas de estabelecer uma ética racionalista (o que ele chamava de "racionalismo construtivista") levassem a delírios totalitários. A saída que ele encontrou foi uma aposta na ignorância humana: só podemos proteger a liberdade individual se abandonarmos quaisquer projetos de estabelecer uma ética objetiva e que nos confortemos com a "ordem espontânea". Mas a ordem espontânea é contraditória nesses termos. Porque a ordem que surge depende dos valores que os indivíduos carregam consigo; sem valores culturais que prezem pela união da sociedade, ela se dissolve. Uma ordem "espontânea" que abdique da busca de quaisquer valores sociais ou éticos é apenas um apego à tradição. Esse conceito de espontaneidade livre de quaisquer valores éticos de Hayek também não o permite dizer que nada é ou não é espontâneo. Ele pode dizer que certas ações do governo foram apenas emergências espontâneas de um determinado contexto social. Até mesmo as políticas econômicas que Hayek defendia perdem quase todo o peso frente ao conceito de espontaneidade que ele próprio defendia. Por que opor-se a medidas inflacionistas se é o governo que as está tomando? E o governo pode ser considerado apenas uma instituição social espontânea, criada pelos próprios indivíduos para satisfazer às próprias necessidades, ou não? E, admitindo-se que a inflação traga resultados ruins, por que deveríamos nos opor a ela de qualquer forma? Seria porque ela traz pobreza social? Mas por que deveríamos querer a riqueza? Não seria esse padrão ético uma espécie de racionalismo construtivista, uma tentativa de moldar à sociedade de acordo com os próprios caprichos que pode desembocar em algum tipo de dirigismo totalitário?