sábado, 14 de julho de 2007

24 contos de Scott Fitzgerald

Estou meio dividido na hora de escolher o melhor conto da coletânea. Mas, bom, não quero dizer "então escolho este, este e este como melhores", não quero parecer indeciso, alguém que foge às decisões importantes, então vou escolher "O menino rico" como o #1. Reproduzirei aqui o começo, que é sensacional, e vocês, se mais que um lê isto aqui, comparam com o original no link dali de cima. Particularmente, achei ótima a tradução de Ruy Castro:
Comece com um indivíduo e, antes que se dê conta, você concluirá que criou um tipo; comece com um tipo e concluirá que o que criou foi — nada. Isso é porque todos somos aves raras, e mais raras ainda no que se passa por trás dos rostos e vozes, naquilo que escondemos dos outros e que nem nós mesmos conhecemos. Quando ouço um homem dizer que é "um sujeito comum, honesto e franco", já sei que ele tem alguma perversão terrível a esconder — e que sua afirmação de ser comum, honesto e franco é apenas uma forma de lembrar a si mesmo o próprio crime.

Não existem tipos, nem generalizações. Existe um menino rico e esta é sua história, não a de seus irmãos.
Agora que já me livrei da responsabilidade de escolher o melhor, não preciso escolher o segundo lugar. Vou deixar bem vago qual é o segundo lugar do livro, dizer que muitos estão empatados na segunda posição e tal. Pois então, "Uma viagem ao estrangeiro", "O amor à noite", "Um belo casal" e "Os nadadores" são incrivelmente bons, de modo que realmente não posso colocar um acima do outro.

Mas eu posso até dizer que tenho um carinho especial pelos dois últimos. O tom dos contos de Fitzgerald é quase sempre pessimista e eu, com meu espírito juvenil, ficava sempre torcendo para os protagonistas não se darem por vencidos. Enquanto os personagens observavam apaticamente suas vidas irem pelo ralo, eu ficava com aquele nó na garganta, querendo obrigá-los a fazer algo, a não aceitar aquela situação, a revertê-la, a humilhar quem os colocou nela, a fazê-los se sair por cima. "Os nadadores" e "Um belo casal" fazem isso parcialmente. Eles não deixam com que os protagonistas sejam destruídos sem lutar.

Ah, e qualquer um se apaixona pelas mulheres que Scott cria. Outra observação necessária: é necessário se acostumar com as descrições dele. No começo, parecem maçantes, e você vai pensar que ele não sabe fazer começos de histórias. Mas dois ou três contos mais tarde você se acostuma, porque sabe que a qualquer momento vai aparecer uma coisa bonita assim:
Fifi Schwartz. Uma bela e radiante judia, cuja testa alta estendia-se até que seu cabelo, como um brasão heráldico, explodisse em madeixas, ondas e caracóis de um vermelho escuro e macio. Os olhos eram grandes, claros, úmidos e brilhantes; a cor intensa de seus lábios e faces era real, assomando quase à superfície depois de bombardeada por seu jovem e impetuoso coração.
O trecho aí em cima é o começo do terceiro parágrafo de "A menina do hotel". Ok, em resumo, no livro estão algumas das melhores 473 páginas que qualquer um poderá jamais ler.