Em primeiro lugar, quero explicar porque usei "duplipensar" no título. São dois os motivos: 1) É a palavra mais adequada, e 2) Pra mostrar que eu li 1984, porque sou muito metidinho. Mas vamos ao Olavo.
Olavo de Carvalho costuma defender a doutrina católica como necessária para a trinomia "tradição, família e propriedade". A doutrina católica é a mesma que diz "ao levar um tapa, dê o outro lado", e isso me parece bastante pacífico. Não entendo como Olavo consegue mesmo assim apoiar uma guerra, que significa, na melhor das hipóteses, "ao levar um tapa, desconte", e, no caso do Iraque, "previna-se de levar um tapa: estapeie antes". Olavo critica os muçulmanos como irracionais, e critica a jihad, mas não vejo como não relacionar a defesa da guerra de Olavo com a jihad: "vamos atacá-los, são muçulmanos. São diferentes de nós" - e aí o Olavo pede um trocado pra continuar escrevendo, porque ninguém é de ferro.
Depois ele defende de novo a Igreja Católica e diz que a "esquerda" pensa errado. Mas ele pensa tão errado quanto ou mais. A esquerda é consistente na maior parte de suas idéias, mesmo se virmos o ponto de vista da igreja. Olavo de Carvalho é contra o casamento gay, o que significa que ele é contra o livre-arbítrio. Repare-se que a igreja não proíbe o casamento gay, proíbe apenas os católicos de se casarem com homens e as católicas com mulheres. A igreja não pede que os governos proíbam o casamento gay, pede que seus fiéis gays não se casem nem mantenham relações homossexuais. Mas Olavo de Carvalho cai na inconsistência que vê na esquerda, vai contra o princípio primeiro do cristianismo, contradiz-se sem pestanejar, defendendo que o homem deve ser proibido pelo homem de fazer o que Deus não proibiu.
Para ele, a economia deve ser livre, mas as relações pessoais não. Quer sinceridade? Prefiro o contrário. Acredito que mais direitos são violados quando se impede que alguém se case, que alguém adote. Mais direitos são violados se as drogas são proibidas do que se a importação de chocolate for taxada. Olavo vê isso? Penso que não. Ao contrário dele, que acha que todo esquerdista é mau e cínico, acho que o Olavo é só irracional, o que o põe numa posição de neutralidade.
De novo os esquerdistas: eles, em geral, defendem abertamente a existência de um Estado regulador para que a economia se desenvolva de forma mais "justa". Olavo se diverte atacando o governo, fingindo que odeia o Estado, mas requerendo cada vez mais Estado pra que as guerras aconteçam cada vez com mais freqüência. É como odiar a agressão e pedir pra cada vez mais o pessoal ser agredido - mas agressão para Olavo tem dois sentidos: duplipensando bem, quando agredimos a agressão é justa, quando somos agredidos é injusta, e quando não acontece precisa começar, porque senão vira tédio. Olavo passou do patamar de achar que está ao lado de Deus para o de achar que é Deus e não se deu conta disso. Porque o único capaz de ser justo mesmo fazendo coisas "injustas" é Deus. E Olavo defende ele pode fazer isso.
Durante todo este post eu falei de "Olavo de Carvalho" como sinônimo de conservador. Só achei que seria mais válido especificar um dos conservadores do tipo pra que ninguém reclamasse de falta de objetividade.
Para ter uma idéia da genialidade do Olavo, é só clicar aqui.