Das criaturas mais baixas às mais altas, a inteligência progride por meio de atos discriminatórios; e ela continua a progredir entre os homens, desde o mais ignorante até o mais culto. Classificar corretamente — colocar no mesmo grupo coisas que são essencialmente da mesma natureza e em outros grupos coisas que são de naturezas essencialmente diferentes — é condição essencial para uma correta orientação das ações. A partir de uma visão rudimentar, que nos alerta que um grande corpo opaco passa por perto (da mesma forma que olhos fechados virados para uma janela, percebendo a sombra causada por uma mão colocada na frente deles, nos diz que algo está se movendo à nossa frente), avança-se a uma visão desenvolvida, a qual, por meio de combinações de formas, cores e movimentos apreciados com exatidão identifica objetos a grandes distâncias como presas ou inimigos, e assim torna possível melhorar os ajustes de conduta que permitam a obtenção de comida ou a prevenção da morte. Essa progressiva percepção das diferenças e a conseqüente maior exatidão das classificações, que constitui um dos principais aspectos do aprimoramento da inteligência, é igualmente vista quando abandonamos uma visão física relativamente simples em favor da relativamente complexa visão intelectual — a visão que permite que coisas previamente agrupadas de acordo com características externas ou circunstâncias extrínsecas sejam reagrupadas em maior conformidade com suas estruturas ou naturezas intrínsecas. Uma visão intelectual pouco desenvolvida é tão indiscriminatória e errônea em suas classificações quanto uma visão física pouco desenvolvida. Observe, por exemplo, as primeiras organizações das plantas em grupos de árvores, arbustos e ervas: o tamanho, sendo a característica mais facilmente notável, era a base da distinção; e as combinações formadas por essa classificação unia várias plantas extremamente desiguais em suas naturezas e separava outras muito parecidas. Ou, ainda melhor, tome-se por exemplo a classificação popular que coloca juntos, sob o mesmo nome geral, peixes e mariscos, e sob o mesmo subnome, mariscos, coloca juntos crustáceos e moluscos; não, a que vai mais longe e considera como peixes os mamíferos cetáceos. Em parte por causa da similaridade de seus modos de vida aquáticos, em parte por conta da semelhança geral em seus sabores, criaturas de naturezas essenciais muito mais separadas que um peixe de uma ave são associadas na mesma classe e na mesma subclasse.
Agora, a verdade acima exemplificada vale também para as visões intelectuais que têm relação com coisas não prontamente apresentáveis aos sentidos, como, entre outras, instituições e medidas políticas. Pois quando pensamos sobre estas, os resultados de uma inadequada aptidão intelectual, ou de um inadequado desenvolvimento dela, ou de ambos, são classificações errôneas e conseqüentes conclusões incorretas. De fato, a probabilidade de erro aqui é muito maior, uma vez que as coisas com a qual o intelecto se ocupa não admitem exame da mesma simples maneira. Você não é capaz de tocar ou de ver uma instituição política: ela só pode ser conhecida por um esforço construtivo da imaginação. Você também não pode apreender através da percepção física uma medida política: isto requer, igualmente, um processo de representação mental pelo qual seus elementos são agrupados no pensamento e em que a natureza essencial da combinação é concebida. Aqui, portanto, ainda mais que nos casos acima mencionados, uma visão intelectual defeituosa é mostrada por agrupamentos formados por características externas ou por circunstâncias extrínsecas.
domingo, 8 de julho de 2007
Herbert Spencer knows it all
Do texto que eu traduzi recentemente de Herbert Spencer, esta passagem especialmente é sensacional. Explica perfeitamente a incapacidade dos liberais de fazerem alianças corretas e de se posicionarem apropriadamente no espectro político: