domingo, 9 de junho de 2013

Sobre monopólios, crises e a economia intervencionista

No meu texto em resposta a Edilson Silva, o próprio Edilson comentou colocando mais uma dezena de pontos. É uma pena que a discussão tenha ficado tão ampla, porque era difícil responder a todos os argumentos colocados. Mesmo assim, eu tentei responder ao que me foi colocado e explicar por que há, na própria dinâmica da economia intervencionista, o núcleo dos nossos problemas econômicos.

Segue o texto Edilson e meu comentário a seguir.

Edilson Silva:

Erick Vasconcelos, vcs estão de parabéns por terem convidado um socialista para um debate em sua conferência. Isto fala bem de vcs, sinceramente. As divergências são de ideias e inclusive já havia colocado a um dos membros de vcs que falava comigo no facebook – criticando o artigo de opinião que publiquei -, que seria bom vcs publicarem então uma resposta, uma réplica, com a base dos argumentos que ele levantava lá no facebook. Acho isto esclarecedor, joga luz sobre os debates, polêmicas, que ao contrário do que pensam alguns comentaristas aqui, são muito pertinentes. Parabéns pelo diálogo, primeiramente.

Veja, Erick, o século XIX passou, com todas estas matrizes teóricas já brotando por lá. No século XX várias teorias ou aproximações teóricas foram implementadas. Nas economias predominantemente de mercado, oscilou-se entre mais e menos liberalismo, e sempre se recuou do mais liberalismo em meio a guerras e convulsões sociais, geradas não por intervenção divina, mas pela dinâmica deste mercado. Vcs afirmarem que leis anti-truste não tem a função de ser mecanismos anti-cíclicos é desprezar completamente a realidade concreta da dinâmica social. Eu, como socialista e anti-capitalista, acho que não resolve estruturalmente o problema, só represa, se não se constrói outra dinâmica estrutural para a produção de bens e serviços, alterando o caráter da apropriação da riqueza produzida, mas é inegável que até para os socialistas uma lei anti-truste e mecanismos de correção de demanda são menos piores que deixar a concorrência aniquilar a ela e à toda a sociedade, pois é disto que se trata. Diferente do gado que morre na seca com a carcaça murcha sob o sol, os seres humanos tem a capacidade de se organizar e reagir. As decisões econômicas não são tomadas somente numa sala confortável, mas não raro com um aríete batendo na porta.

Bem, o século XXI começou com Marx feito uma Fênix. Não conseguiram sepultá-lo, de novo. Keynes também está bem coradinho, diria até que com a musculatura renovada. Países que não experimentam tanta ortodoxia liberal parecem mais resistentes à crise – não se sabe até quando. A Europa apresenta um quadro de piora assustadora dos níveis de desemprego. A realidade parece não querer se encaixar em certas teorias neoliberais, que dirá mais ortodoxas.

Pra terminar, como vc me indicou um livro, vou lhe indicar um também, no qual vc poderá conhecer a elaboração mais próxima de Marx acerca do Estado, propondo a sua extinção gradual – o termo mais preciso é definhamento -, trocando o “governo dos homens” para a “administração das coisas”: “O Estado e a Revolução”, de Lênin, que antes de morrer, ainda em 1922, foi um dos idealizadores da NEP – Nova Política Econômica, gesto que mostra bem onde o marxismo mais lúcido – para mim o “verdadeiro” (apesar de achar que estes termos são ruins), aponta. Gde abç.

Erick Vasconcelos:

Edilson,

Obrigado pelos elogios a nós e eu concordo plenamente com você: acho que devemos dar mais a cara a tapa para o debate público. O fato de você ter comparecido numa nossa conferência já diz bastante sobre você também. Tomara que tenhamos outras chances.

Sobre a questão dos anti-trustes, eu discordo completamente. As leis anti-truste não brotaram por uma necessidade de salvar o mercado de si próprio. Historicamente, observa-se que essa legislação nasceu de uma necessidade de empresas maiores de se consolidarem no mercado e se protegerem da concorrência. A legislação americana (o Sherman Act, o Clayton Act e algumas outras leis), que foi copiada no mundo todo, foi desenhada por grandes empresários em conluio com políticos. Por mais de 100 anos essas leis vêm sendo usadas para penalizar negócios que expandem a oferta dos seus produtos, inovam ou cortam preços. De fato, outra legislação dessa época, que criou o banco central americano, foi claramente vista como uma tentativa de tirar bancos pequenos do mercado, porque eles tornavam o ambiente “instável” pros grandes.

Mesmo na teoria nós vemos por que isso acontece. “Monopólios” dificilmente conseguem se manter num mercado aberto porque toda vez que eles tentam aumentar seus preços, eles liberam fatores de produção. Liberando fatores de produção, eles podem ser usados por outros concorrentes. Se eles não liberam fatores de produção, eles estão praticando preço competitivo. Um monopolista só consegue praticar preços ou práticas de mercado abusivas num mercado forçosamente restrito. É por isso que a economia brasileira é essa lerdeza: vive sob pilhas de legislação, proteções, encargos, subsídios para os amigos.

O problema da sua visão geral, Edilson, ao que me parece, é que você pensa que algum problema estrutural existe no núcleo da economia de mercado. Mas nós, liberais, pensamos o contrário: existe um problema intrínseco com a economia intervencionista.

Por quê? Porque numa economia intervencionista, o estado não só não tem a informação necessária para saber como, onde e quando intervir, mas mesmo que soubesse disso tudo, os políticos têm todos os incentivos para se locupletarem e levarem junto os Eikes Batistas da vida.

Sobre Marx e Keynes estarem rejuvenescidos: é verdade e é uma pena, porque demonstra uma compreensão equivocada sobre a economia.

Mas me admira um pouco, Edilson, você citar Keynes favoravelmente, já que a ideologia dele é uma grande possibilitadora do capitalismo corporativista que os marxistas tanto denunciam. Para Keynes, as políticas “anti-cíclicas” devem “estimular a demanda”. Não dá pra reclamar do consumismo depois de chancelar uma ideia como essas, não?

Já sobre a indicação de livro, eu já li esse aí de Lênin. Não vou dizer que eu tenha gostado tanto. Já sobre Marx e o definhamento do estado, Marx não usava uma definição tão usual de estado, então é difícil tirar muito dessa afirmação dele.

Abraços.